
PORTO ALEGRE, 25 de junho de 2025 - A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) entrou em pauta de forma direta, prática e com a linguagem do cotidiano em um encontro exclusivo com as equipes da ABRH-RS e da ABRH Estágio. Conduzido pela diretora de Privacidade e Compliance da ABRH-RS, Benícia Montelli, o bate-papo teve como foco provocar reflexões urgentes sobre o tratamento de dados pessoais no ambiente de trabalho, especialmente em organizações que lidam com milhares de cadastros e processos seletivos todos os anos.
Ao contrário de abordagens tecnicistas, Benícia optou por partir do comportamento comum: “Somos nós que alimentamos as redes e entregamos nossos dados, às vezes, em troca de um desconto ou numa conversa qualquer. Como então seremos capazes de cuidar dos dados de outras pessoas, se não cuidamos dos nossos?”. A provocação abriu caminho para uma discussão mais profunda sobre a responsabilidade e protagonismo que cada colaborador assume ao manipular dados sensíveis no dia a dia, como fichas de estagiários, registros cadastrais e formulários diversos.
Durante o encontro, a diretora destacou a diferença entre dados pessoais e dados sensíveis, alertando para o risco de discriminação embutido em informações coletadas de forma precoce ou sem justificativa clara observando o princípio da transparência previsto na LGPD. “Por que pedir uma infinidade de dados pessoais de um candidato logo na etapa inicial de um processo seletivo?”, questionou, ao exemplificar a importância da intencionalidade nas coletas de dados pessoais. Segundo ela, muitas das informações são legítimas apenas no momento adequado, e o excesso, além de arriscado, pode se tornar um passivo ético e jurídico.
Benícia também trouxe um alerta sobre o uso da inteligência artificial no ambiente profissional. Longe de condenar as ferramentas, sua fala apontou para a necessidade de maturidade e supervisão no uso de tecnologias que capturam, interpretam e armazenam dados em larga escala. “Não é sobre proibir, é sobre entender. Se o dado não é seu, você não deve expô-lo em um sistema sem autorização”, explicou. Casos reais de vazamentos de dados, uso indevido e até mesmo demissão motivada por rastreamento de interações com IA foram compartilhados para ilustrar os riscos.
Outro ponto sensível levantado foi o armazenamento excessivo de informações. A prática comum de manter cadastros antigos por tempo indeterminado — muitas vezes sem uso — foi contraposta à necessidade de instituir políticas de temporalidade conforme previsto na LGPD. “Quanto mais dados você guarda, maior o risco no caso de um vazamento”, reforçou.
O encontro também serviu como reforço para a Política de Privacidade da ABRH-RS, disponível no site da entidade, e esclareceu os caminhos que um titular de dados deve seguir caso deseje solicitar informações, alterações ou a exclusão de registros.
Encerrando a conversa, Benícia trouxe uma regra de ouro que sintetiza o espírito da LGPD: “O dado não pertence à empresa. O dado é da pessoa. Cuide dessas informações como se fossem suas.”
A atividade reforça o compromisso da ABRH-RS com práticas responsáveis, éticas e atualizadas na gestão de pessoas, sempre colocando o ser humano no centro das decisões.