Saiba como a maternidade pode influenciar na carreira de mulheres e estimular o empreendedorismo

 

O empreendedorismo e a gestão do próprio negócio cada vez mais é um rumo assumido também pelas mulheres. Segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), pelo menos 50% das novas empresas - considerando as que têm até três anos de existência - pertencem a empreendedoras. O anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras das Micro e Pequenas Empresas, divulgado pelo SEBRAE e Dieese, aponta que o número de mulheres empreendedoras e chefes de famílias passou de 6,3 milhões para quase oito milhões nos últimos 11 anos, um crescimento de 25%.

 

O caminho do empreendedorismo pode ser trilhado para a busca de crescimento profissional, realização do sonho de ser dono do próprio negócio, para estar mais perto da família, ou todos esses juntos. Muitas mães encontram no empreendedorismo uma forma de estar mais presente sem deixar o trabalho de lado. A vice-presidente de Educação Corporativa da ABRH-RS, Laira Seus, é mãe, empreendedora e explica que estar presente é importante, mas destaca que ser “dona dos próprios horários” significa, muitas vezes, trabalhar 18 horas por dia. “A vantagem é a flexibilidade de horários para acompanhar os filhos em situações que, tendo horário a cumprir e agendas complicadas, não se consegue”, diz, salientando que a empresária é a única responsável pela sua produtividade, o que exige maior dedicação. “A empreendedora tem de estar sempre correndo atrás das oportunidades e pode acabar trabalhando à noite e nos finais de semana”, esclarece.

 

Laira é mãe de Arthur, de 15 anos, e Rafaela, de 10 anos. Quando foi mãe pela primeira vez ocupava o cargo de gerente de RH em uma multinacional. “A decisão de ter filhos veio depois de 15 anos de casada. Casei muito jovem e lutamos muito para conseguir estudar e ter uma condição melhor de vida”, relata. A empresa em que atuava não via problemas na conciliação entre trabalho e maternidade. “Fui gestora em uma empresa que sempre valorizou as relações familiares, respeitou minhas licenças, idas ao pediatra e, muitas vezes, minhas crianças ficaram comigo na empresa, desenhando na minha sala e até participando de reuniões ao meu lado”, lembra.

 

Nem todas as mães contam com a mesma oportunidade de Laira. Um estudo publicado na Harvard Business Review comprovou que as mulheres são desmerecidas em processos de recrutamento por causa da possibilidade de serem mães. A partir de dois currículos fictícios enviados a 316 escritórios de 147 firmas de direito em 14 cidades dos Estados Unidos, os pesquisadores constataram que os homens têm três vezes mais chances de serem recrutados.

 

Há dois anos, Laira saiu da empresa em que trabalhava e diz que é normal as mães sentirem que estão sendo ausentes, mas que não se deve ter culpa por isso. “Mesmo na época em que viajava todas as semanas, sempre tive a certeza que nos momentos em que estava com eles - presencial ou mesmo virtualmente - fui e sou a melhor mãe que consigo ser", testemunha.

 

Responsabilidade dos dois lados

As mudanças recentes na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) trouxeram a proposta de flexibilizar as relações entre empresas e empregados. “As mudanças facilitam os acordos individuais, a flexibilidade de horários, os bancos de horas individuais, o trabalho home office, as férias parceladas, e tudo isso vai ajudar muito”, acredita Laira. Ela salienta que as organizações precisam compreender que as mães têm dinâmicas de vida diferentes, mas que isso não impede a realização do trabalho. “As empresas devem entender que mãe precisa ter alguns momentos de ausência para cumprir funções da maternidade, como reunião na escola, apresentações e atividades que, na maioria das vezes, ocorrem no horário de expediente”, sinaliza, apontando que ir trabalhar com o filho doente em casa deixa as mães angustiadas e preocupadas. “Problemas podem acontecer com babás e as mães não podem deixar a criança num hotelzinho de pets”, argumenta.

 

Laira lembra, também, que as mães devem ter atenção no trabalho para que a gravidez não seja motivo de descuido com a atividade profissional. “Devemos continuar dando o melhor em qualquer período. Se esperamos compreensão da empresa, também temos de compreender que nossas atividades não se acabam ao engravidar”, defende, complementando que o comportamento das mulheres pode ajudar na busca por mais reconhecimento. “Tudo precisa ser negociado e a mulher que tem ou queira ter filhos somente vai ser respeitada se construir este caminho”, atesta.

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