“O trabalho não é mais um local e, sim, uma atividade”

 

O XI Fórum de Relações Trabalhistas, da Associação Brasileira de Recursos Humanos, seccional Rio Grande do Sul (ABRH-RS), debateu o tema Home Office: Práticas e Formas de Implementação. Na ocasião, foram apresentados os cases da Dell, Gerdau e Shell e debatidos os desafios e melhores práticas.

 A gerente de Recursos Humanos da Dell, Fernanda Kessler, apresentou o case da empresa que é referência em home office e está entre a lista das 10 melhores organizações para trabalho remoto, segundo a Forbes. Ela iniciou destacando que essa é uma tendência para as organizações num mundo que mudou e que todos estão conectados.

Segundo dados apresentados pela palestrante, 60% dos locais de trabalho são menores que há 20 anos; 82% dos Millennials, ou Geração Y, dizem que a tecnologia no local influencia na escolha da empresa; 50% das pessoas utilizam aparelhos pessoais para o trabalho; e metade dos CEOs acreditam que a tecnologia é a chave para atrair novos talentos. “O mundo corporativo mudou. O trabalho não é mais um local, e sim uma atividade, e isso é uma tendência sem volta”, destaca. Kessler apresentou o Programa Connected Workplace, que promove a cultura de trabalho altamente móvel, colaborativa, ágil e com flexibilidade. Conforme ela, a Dell tem um processo bem definido de capacitação para o trabalho remoto, com o fornecimento de soluções tecnológicas. “Um dos questionamentos frequentes é como separar a vida pessoal da profissional. Acredito que não há uma resposta certa, cada um tem um conceito”, explica. E enfatiza: “Adotar a rotina home office exige muita organização e conexão. Essas são as palavras-chave”.

Conforme Fernanda, é imprescindível que se tenha um espaço físico adequado, com uma rotina da casa bem definida para que se possa incorporar a rotina desta modalidade de trabalho. “Ter o seu espaço para adaptar o novo estilo de trabalho com organização pessoal, é fundamental”. Outra grande questão para o trabalho remoto são as práticas modernas versus a legislação trabalhista. Para ela, essa é a grande questão. “Hoje o RH e Jurídico andam de braços dados nas empresas e isso não tem como ser diferente. A questão trabalhista é um risco que precisa ser assumido e com uma política interna muito clara”. Para a Dell, vale muito pelos aspectos econômicos, ambientais e de satisfação do colaborador. Desde 2013, por exemplo, a Dell evitou gastos de 25 milhões de kWh de energia, 136 milhões de milhas em viagem por ano, entre outras conquistas. “Na Dell os riscos valem muito a pena”, conclui.

Para apresentar o Case Gerdau, a Business Partner  e responsável pelo processo de carreira, Roberta Vitola, contou como a empresa centenária revistou 100% dos processos de Recursos Humanos, desde 2014, e passou a implementar, desde o ano passado, um novo plano estratégico de cultura, estrutura e liderança. “A mudança precisava passar pelo comportamento das pessoas. Ouvimos cinco mil líderes para chegar na estratégia”, conta Roberta. Entre as inovações implantadas, foram criados ambiente e salas de inovação, rede social interna, horário flexível, regras específicas de horário no período do verão (Summer Time) e a prática do home office. “São Paulo foi pioneiro e agora também implementamos no Rio Grande do Sul. Os resultados da mudança foram alta satisfação e maior produtividade”, destaca a profissional. Roberta enfatiza que existem diversas regras de elegibilidade e conduta no formato home office. “É fundamental estarem bem claras as combinações de trabalho e não confundir home office com day off. O trabalho se mantém, mas em outro formato e local, e sempre com uma escolha e opção pessoal, pois o ambiente precisa estar preparado para a atividade”, alerta.

O gerente de Recursos Humanos para Downstream e Relacionamento com a Indústria da Shell, Maurício Santos, destacou os desafios e práticas que deram certo no modelo implantado na empresa, que conta com 100% da força de venda home office. “Esta modalidade representa um item importante da proposta de valor para a força de venda e cargos virtuais onde a presença no escritório central não é requerida”, explica. Conforme Santos, a cultura da empresa precisa ser adaptada para o trabalho home office. “Os pilares para dar certo são: cultura organizacional, políticas e práticas, e tecnologia, todos embasados na confiança e transparência”. Na Shell, 75% dos funcionários têm possibilidade de horário flexível e 85% tem notebook.

Entre os desafios destacados pelo gerente estão a infraestrutura tecnológica do Brasil, que ainda não é estável em todas as regiões; o controle de ergonomia em casa ainda frágil; o entendimento de que home office não é folga; e, por fim, a definição de políticas de utilização de redes sociais e de conexão que precisam manter-se atualizados.

O gerente regional do Instituto Brasileiro de Governança Trabalhista em Santa Catarina, César Pasold, falou sobre as negociações coletivas, normas e Lei que rege o teletrabalho. “É fundamental uma combinação bem-feita entre as partes. A legislação específica fez pequenos ajustes em 2011, mas uma atualização mais ampla dificilmente será feita no curto prazo”, avalia Pasold. “A organização que opta por modelos com home office não pode embarcar sem regras estabelecidas. É fundamental mensurar os riscos e estar ciente de que as normas de trabalho são aplicadas da mesma forma”, alerta. “Como mensurar, por exemplo, os riscos de um profissional trabalhar de qualquer lugar? Sinalizar a necessidade de pensar no ambiente de preparação para atuar em casa é um caminho preventivo, pois foge do controle da empresa”, relata.

“A pessoa que está à distância precisa ter muita clareza do que ele pode ou não fazer. O profissional precisa saber exatamente o seu grau de autonomia de decisão e suas funções. A proposta pré-contratual com as condições de trabalho também é uma medida para que o funcionário não alegue posteriormente que foi surpreendido com as regras apresentadas posteriormente”, destaca o especialista. “Sinalizar desde o início que esta modalidade pode ser alterada/ reversível a qualquer tempo pela organização também é uma medida preventiva para evitar problemas futuros”, aconselha.

 

O Fórum de Relações Trabalhistas de 2017 contou com a presença de 129 participantes. O tema do próximo Fórum será divulgado no segundo semestre deste ano.

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